É hora de realizar um ensaio clínico randomizado para avaliar se o derivado de vitamina B3 nicotinamida pode prevenir melanoma em indivíduos de alto risco, concluem os autores de uma nova revisão publicada on-line em 8 de agosto no periódico Photodermatology, Photoimmunology and Photomedicine.
Essa ideia é baseada em várias evidências, afirmam eles.
Ainda mais importante, foi demonstrado que a nicotinamida reduz a incidência de câncer de pele não melanoma em indivíduos de alto risco em um ensaio fase 3, disse o autor sênior Dr. Gary Halliday, dermatologista da University of Sydney (Austrália), em um comunicado à imprensa.
"Valeria a pena determinar se também seria útil para pacientes com alto risco de melanoma", disse ele.
Os resultados anteriores de fase 3 no câncer de pele não melanoma são do estudo australiano ONTRAC (sigla em inglês para Nicotinamida Oral para Reduzir o Câncer Actínico), que foi apresentado pela primeira vez no Encontro Anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO) de 2015, e posteriormente foi publicado no New England Journal of Medicine.
No ONTRAC, a nicotinamida demonstrou reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de outros tumores de pele entre 386 pacientes que foram diagnosticados com câncer de pele não melanoma.
Especificamente, para os pacientes que usaram 500 mg de nicotinamida duas vezes ao dia por um ano, houve uma redução de 23% nos novos diagnósticos de câncer de pele não melanoma, em comparação com aqueles que usaram placebo (P = 0,02). Novos diagnósticos de carcinoma basocelular foram reduzidos em 20%, carcinoma de células escamosas em 30%, e ceratose actínica em 13%.
Durante o estudo, que durou um ano, os pacientes no grupo placebo desenvolveram uma mediana de 2,5 novos tipos de câncer de pele, enquanto aqueles no grupo nicotinamida desenvolveram uma mediana de 1,77 novos tumores.
No encontro de 2015 da ASCO, um pesquisador do ONTRAC disse que a nicotinamida estava "pronta para a clínica".
Esta semana, o Dr. Halliday disse ao Medscape: "Atualmente, a nicotinamida é amplamente prescrita por dermatologistas na Austrália".
Atualmente a nicotinamida é amplamente prescrita por dermatologistas na Austrália. Dr. Gary Halliday
O suplemento é barato; a dose recomendada de 1 g/dia custa aproximadamente US$ 10 por mês.
Quando perguntado se havia algum efeito negativo com o uso de nicotinamida, o Dr. Halliday disse: "Não que eu saiba".
No entanto, outros especialistas levantaram questões sobre o uso de nicotinamida como quimioprevenção para câncer de pele com base apenas nos dados do ONTRAC.
"O nível de evidência não é suficientemente alto", disse o Dr. Aleksandar Sekulic, da Mayo Clinic-Phoenix, Arizona, em 2015. "Este é apenas o primeiro estudo, e teve um número pequeno de pacientes para um estudo de prevenção".
Também em 2015, outro comentarista disse que a população australiana de alto risco pode não ser representativa de populações com câncer de pele em outros locais, particularmente em climas menos ensolarados.
Se em sua revisão, Dr. Halliday e coautores estavam cientes dessas críticas, não as reconheceram no artigo.
Em vez disso, eles enfatizaram a necessidade de evitar não apenas os tipos de câncer de pele não melanoma, mas também o melanoma.
"Estratégias quimiopreventivas para a carcinogênese da pele são extremamente importantes, especialmente diante do envelhecimento das populações, e das taxas crescentes de melanoma e câncer de pele não melanoma em todo o mundo", escrevem.
Os autores citam uma série de estatísticas para ilustrar a proeminência do melanoma.
O melanoma é o quarto câncer mais comum na população australiana. Nos Estados Unidos, é o quinto principal câncer em homens e o sétimo em mulheres. Em 2009, entre os americanos, o risco ao longo da vida de desenvolver melanoma (invasivo ou in situ) foi de 1 em 58 e 1 em 78, respectivamente. Em 2016, o risco ao longo da vida aumentou para 1 em 54 e 1 em 58.
Os autores também citam evidências de que a nicotinamida pode ajudar a reduzir ou reverter o dano do DNA e a imunossupressão causada pela radiação ultravioleta. Ambos mecanismos biológicos são "importantes na indução do melanoma", dizem eles.
"Os efeitos fotoprotetores da nicotinamida e a eficácia dela na quimioprevenção de câncer de pele não melanoma sugerem potencial semelhante para a eficácia na prevenção do melanoma", afirmam os autores australianos.
Eles observam que a nicotinamida tem sido utilizada no tratamento de várias doenças da pele, como rosácea, acne e diferentes dermatoses bolhosas. E, embora os efeitos anti-inflamatórios do agente não sejam totalmente compreendidos, vários estudos (Clin Exp Immunol. 2003; 131: 48-52; Mol Cell Biochem. 1999; 193: 119-125) fornecem evidência para o papel anti-inflamatório da nicotinamida por meio da inibição da PARP-1, afirmam os autores da revisão.
Uma grande quantidade de pesquisas com possíveis agentes quimiopreventivos para o câncer de pele foi realizada, acrescentam os autores. Tais agentes incluem estatinas e vitamina D.
"No entanto, os outros agentes têm efeitos colaterais inaceitáveis, são muito caros para serem úteis ou não tiveram eficácia comprovada em ensaios clínicos", afirmou o Dr. Halliday.
Nenhuma quimioprevenção está totalmente comprovada, reconheceu ele. "A melhor abordagem comprovada é reduzir a exposição ao sol", disse o Dr. Halliday.
Os autores e comentaristas declararam não possuir conflitos de interesses relevantes.
Photodermatol Photoimmunol Photomed. Publicado on-line em 8 de agosto de 2017.
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