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Acidente vascular cerebral isquêmico pode sugerir câncer subjacente



Madri, Espanha - Alguns pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) podem ter câncer não diagnosticado, contribuindo para o risco de eventos cerebrovasculares pela indução de um estado de hipercoagulabilidade, sugerem resultados de um estudo observacional espanhol.

A incidência de câncer entre os pacientes que sobrevivem aos quadros de AVC foi quase o dobro da prevista na população geral, tendo sido foi associada a aumento dos níveis séricos de fibrinogênio.

"Quando o câncer foi diagnosticado, geralmente já estava em estágio avançado, e o diagnóstico foi feito nos seis meses após o acidente vascular cerebral", disse em um comunicado à imprensa o pesquisador responsável Dr. Jacobo Rogado, médico especialista em oncologia clínica do Hospital de La Princesa, em Madri (Espanha).

"Isso indica que o câncer já estava presente quando o AVC aconteceu, mas não havia sintomas", acrescentou o pesquisador.

"Os pacientes que sobrevivem a AVCs devem ter acompanhamento clínico para pesquisa de câncer nos 18 meses após o diagnóstico do acidente vascular cerebral. Isto aplica-se particularmente aos pacientes mais velhos com história de câncer, ou com níveis altos de fibrinogênio ou baixos níveis de hemoglobina", disse o Dr. Rogado.

O estudo foi apresentado no congresso de 2017 da European Society for Medical Oncology (ESMO) em 10 de setembro.

Comentando pela ESMO, o Dr. Fausto Roila, diretor da oncologia clínica do Hospital Santa Maria della Misericordia, em Perugia (Itália), advertiu cautela na interpretação desses resultados.

Embora a potencial associação entre o AVC e o câncer seja "uma questão interessante", disse o Dr. Roila, os resultados atuais são prejudicados pela ausência de um grupo de controle pareado. "Um estudo caso-controle teria sido mais adequado", disse o médico em um comunicado.

O Dr. Roila também ressaltou que a diferença nos números absolutos entre os casos de câncer incidente, e o previsto na população em geral é de apenas 12, "e isso pode ser decorrente das diferenças de idade entre os dois grupos".

Dr. Roila disse ainda que "a população geral inclui pessoas de todas as idades, enquanto a população de casos (pacientes com AVC) é constituída principalmente de pessoas mais velhas. Portanto, outros estudos adicionais são necessários antes que uma associação sólida possa ser estabelecida entre o acidente vascular cerebral e o câncer".
Detalhes do estudo

Estudos post mortem feitos anteriormente sugeriram que o câncer pode estar associado ao acidente vascular cerebral, potencialmente como resultado da hipercoagulabilidade causada pelo tumor, mas "a magnitude desta associação não foi descrita", disse o Dr. Rogado.

Para investigar melhor essa associação, e identificar os potenciais fatores preditivos, os pesquisadores examinaram os prontuários médicos de todos os 914 pacientes internados em um único serviço de emergência entre 2012 e 2014.

Os pesquisadores excluíram pacientes com, entre outros, diagnóstico de câncer ativo ou diagnóstico de câncer nos últimos cinco anos, ataque isquêmico transitório ou hemorragia cerebral. Foram avaliados 381 pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi), que foram acompanhados durante 18 meses após o diagnóstico, comparando dados demográficos e clínicos entre aqueles que tiveram e os que não tiveram diagnóstico de câncer.

Durante o acompanhamento, 29 (7,6%) pacientes com AVC foram diagnosticados com câncer, comparados a uma incidência estimada na população geral de 17 (4,5%). Os tipos de câncer mais comuns foram de câncer de cólon, pulmão e próstata, e 62% dos pacientes apresentavam doença metastática ou local avançada.

O intervalo médio entre o início do acidente vascular cerebral isquêmico e o diagnóstico de câncer foi de seis meses, com 44,8% dos casos de câncer diagnosticados nos primeiros seis meses.

A análise multivariada revelou que os indicadores independentes de diagnóstico de câncer após um acidente vascular cerebral isquêmico foram: idade acima de 76 anos (P = 0,003), diagnóstico de câncer há mais de cinco anos (P = 0,042), níveis de fibrinogênio acima de 450 mg/dL (P = 0,019) e níveis de hemoglobina abaixo de 13 g/dL (P = 0,004).

Não houve associação entre o diagnóstico de câncer após o acidente vascular cerebral e outros fatores de risco tromboembólicos, nem com a causa e a apresentação clínica do acidente vascular cerebral, observou a equipe.

Dr. Rogado disse: "foi sugerido que o câncer seja um estado de hipercoagulabilidade no qual as células tumorais ativam o sistema de coagulação".

"Isso poderia explicar nossa observação do aumento dos níveis de fibrinogênio entre aqueles com diagnóstico de câncer. Pode ser que o efeito pró-trombótico do câncer tenha contribuído para os quadros de acidente vascular cerebral".

Os autores informaram não ter nenhum conflito de interesse relativo ao tema.

European Society for Medical Oncology (ESMO) 2017 Congress. Apresentado em 10 de setembro de 2017. Resumo 1412P_PR.

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